SURGE ET AMBULA
Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.Dormes! e o mundo avança, o tempo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E no outro tu dormes o teu sono infindo...
A selava faz de ti sinistro eremitério,
onde sozinha, à noite, a fera anda rugindo...
A terra e a escuridão têm aqui o seu império
E tu, ao tempo alheia, ó África, dormindo...
Desperta. Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula...
Desperta. O teu dormir já foi mais que terreno...
Ouve a voz do Progresso, este outro Nazareno
Que a mão te estende e diz: - África surge et ambula!
(Fonte: Rui de Noronha (1936). In: Pires Laranjeira. Literaturas africanas de
expressão portuguesa. São Paulo: Universidade Aberta, 1995, p.257)
Nenhum comentário:
Postar um comentário