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terça-feira, 11 de maio de 2010

Já vou logo avisando: cronista eu não sou...

Sala dos professores


O sinal bate. Já estamos no meio da tarde e é hora da pausa para depois mais duas aulas e finalmente fim do dia de trabalho. Professores e alunos encaminham-se para baixo. Misturam-se pelas escadas. Cada qual para os seus devidos lugares institucionalizados, demarcados, separados.

A sala dos professores, mais uma vez, transforma-se em um muro das mais perversas e irônicas lamentações. Lá fora a meninada solta, conversando, brincando, correndo, tendo também o seu momento de pausa, afinal, devem pensar alguns deles, as aulas são cada vez mais chatas e repletas de conteúdos que deixaram de fazer sentido há pelo menos um século. Deixem que pensem, são mortais assim como o são seus professores e já não andam mesmo muito sedentos do conhecimento que seus mestres pensam que possuem.

Professor tem mania de falar de aluno mesmo quando o objetivo não é esse. Voltemos ao muro das lamentações, digo, sala dos professores.

Lá o veneno é destilado.... Os alunos são uns párias, são inúteis, não prestam. Estamos cansados disso tudo. Ensinar, pra quê? E o veneno começa e escorrer por debaixo da velha mesa. Como numa cena daqueles filmes de terror, atinge os pés daqueles que estão ao redor, sobe pelas veias e ganha as células do corpo daqueles pobres educadores. Chega ao cérebro e finalmente envenena. Cai o primeiro, e seu corpo fica ali, estirado, imóvel, sem esboçar nenhuma reação. Está morto? Alguns, sentindo-se estranhos, levantam-se e saem, outros riem como se estivessem já dopados por aquela terrível porção. Poucos ficam até o fim e, sem que ninguém veja, tiram do bolso o frasco azul e virando-se propositalmente tomam um gole, o que faz com que consigam suportar até o fim. Falta pouco.

Novamente ouve-se o sinal. É hora de retornar para a sala de aula. Hora de mais uma vez colher de cada ser humano que ali se encontra como aluno a preciosa gota que abastecerá o frasco azul. Aquele que provavelmente no dia seguinte será esvaziado novamente.

Juliana de Oliveira

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