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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Trabalho em equipe

TECENDO A MANHÃ
João Cabral de Melo Neto


Um galo sozinho não tece uma manhã:


ele precisará sempre de outros galos.


De um que apanhe esse grito que ele


e o lance a outro; de um outro galo


que apanhe o grito de um galo antes


e o lance a outro; e de outros galos


que com muitos outros galos se cruzem


os fios de sol de seus gritos de galo,


para que a manhã, desde uma teia tênue,


se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,


se erguendo tenda, onde entrem todos,


se entretendendo para todos, no toldo


(a manhã) que plana livre de armação.


A manhã, toldo de um tecido tão aéreo


que, tecido, se eleva por si: luz balão.



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